Eles têm capacidade de concentração maior que os ouvintes, mas ainda apresentam índices de defasagem escolar
Foto e texto: Maristela Niz
Aula de informática ministrada pelo instrutor de libras e intérprete Jorge Fortes
Não ser contratado. Motivo? Ausência de um sentido. Não ter a capacidade de ouvir pode colocar o candidato em apuros na hora de conseguir um emprego. De todas as deficiências, os surdos são os que têm maiores dificuldades para serem inseridos no mercado de trabalho “eles não se comunicam com ninguém e muitas vezes não entendem o processo. Às vezes nem sabem o porquê de terem sido demitidos e a razão disso está em não haver nenhuma pessoa da empresa que saiba explicar”. A informação é da coordenadora do programa Deficiência e Competência, Ana Maria Santos Vaccari.
A realidade dos deficientes auditivos em Sergipe no mercado de trabalho demonstra por um lado a falta de preparo das empresas em recebê-los e por outro a ausência de qualificação profissional de quem tanto deseja ser inserido. Nesse sentido, medidas têm sido tomadas no intuito de qualificar os deficientes auditivos em todo Brasil “Muitos surdos estão em idade de trabalhar, mas não têm a escolaridade exigida” a constatação é de Daisy Mara Moreira de Oliveira, psicopedagoga e coordenadora do Instituto pedagógico de apoio à educação do surdo de Sergipe- IPAESE.
Por que é tão difícil se profissionalizar?
De acordo com Erivaldo Silva, assessor de Recursos humanos do Senac, a capacitação profissional é fundamental para a inserção do deficiente no mercado de trabalho, no entanto, para que as contratações sejam efetivadas e os cursos sejam preenchidos por alunos com necessidades especiais, estes devem ter uma formação escolar preliminar. “A grande dificuldade encontrada pelas escolas profissionalizantes é a baixa escolaridade. Os cursos em geral, principalmente os cursos técnicos, precisam que o candidato tenha ensino médio completo. É muito difícil você encontrar pessoas com deficiência que tenham essa escolaridade. Por conseqüência, há dificuldade no ingresso dos deficientes até mesmo nos cursos profissionalizantes”, explica.
A fim de qualificar
O Instituto pedagógico de apoio à educação do surdo de Sergipe- IPAESE existe há 7 anos e proporciona aos alunos educação de tempo integral “trabalhamos com alunos a partir dos 5 anos de idade, mas temos pessoas matriculadas de até 25 anos. Isso se dá por conta da defasagem escolar em que muitos se apresentam.” explica a coordenadora pedagógica. Os alunos são atendidos com oficinas de língua portuguesa, matemática, balé, caratê e teatro. Além disso, há aulas de informática e núcleo de tecnologia visual. Breno tem 14 anos e é aluno do Ipaese desde os 5. Em libras declara seu futuro profissional "quero ser jornalista".
Faltam iniciativas
Segundo o professor Jorge Fortes, faltam iniciativas concernentes à educação do surdo no Brasil e isso influencia em sua entrada no mercado de trabalho “é raro encontrar instituições específicas ao surdo. Muitas vezes, só oferecem ao surdo emprego de empacotador por falta de qualificação profissional” conclui. De acordo com o instrutor de libras, as empresas devem se despertar para a contratação de surdos e perceber que eles têm um intelecto fantástico e uma capacidade de concentração que os ouvintes não têm. "Pode cair qualquer coisa por perto do surdo que ele não vai tirar a atenção com facilidade do que está fazendo” destaca o professor.
Questão de lei
Mais do que obedecer a portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social de número 4.677/98 fundamentada no artigo 93 da lei número 8.213/91 que regula os benefícios da Previdência Social e o artigo 201 do Decreto número 2.172/97, que obriga todas as empresas com mais de cem funcionários a terem em seu quadro pessoas portadoras de deficiências, há lei referente à colocação de intérpretes nos setores de trabalho “ Por lei, cada departamento público tem que ter pessoas que saibam se comunicar com os surdos. Em cada repartição deve haver um intérprete” afirma o professor.